Memórias

Foto por Luiz Alexandre Raposo


Esta bela foto, captada pelas lentes do meu amigo e conterrâneo, também Presidente da Academia Vianense de Letras, me faz retornar aos idos de 1949 quando, naquela casa de Deus, fui batizado. Ali, também pela mãos do Padre Manoel Aroucha, aprendi a ser "coroinha". Muitas vezes tive o privilégio de ajudá-lo em sua missas matutinas, naquela época celebradas ainda em latim. No prédio azul, chamado de Palácio do Padre, morava o Padre Aroucha. Na parte de baixo, em sala frontal e na sala ao lado direito, após as missas dominicais matutinas, reunia-se a Irmandade São Vicente de Paulo. Naquela época presidida por meu saudoso pai Zé Pinheiro, em companhia e participação de muitos outros conterrâneos Vicentinos. Alí, após os ritos  cerimoniais, havia a distribuição de leite em pó para os pobres que todos os domingos pra lá se dirigiam. A entrega desse leite era fruto, se não me falha a memória, do Programa Aliança para o Progresso (Brasil/Estados Unidos). Lembro-me que antes de  papai finalizar a reunião eu passava com uma pequena sacola para solicitar a cada vicentino a sua contribuição em dinheiro. A importância coletada era conferida alí diante de todos e entregue a um necessitado, inválido ou hanseniano. Terminada a reunião, os vicentinos se dirigiam até a morada do escohido desse domingo para fazer a doação. Bons tempos aqueles... 



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UM POUCO DE VIANA EM MIM

                                                                              
                                                                José Mendes Pinheiro Filho (Pinheirinho)

Eu com três meses com Papai e Mamãe





       Nasci em Viana, Maranhão, no dia 12 de maio de 1949, em um quarto do famoso Sobrado Amarelo (quarto todo pintado de azul, com uma técnica especial que parecia nuvem, dando a impressão que se estava no céu: obra do famoso pintor de Viana, Benedito Gordura. O Sobrado Amarelo, também chamado de Fábrica Santa Maria, era o maior prédio da cidade de Viana,  localiza-se à Rua Cônego Hemetério, à beira do formoso Lago de Viana. Era a residência dos meus pais José Mendes Pinheiro e Laura Mohana Pinheiro. Sou o primogênito de seis irmão: Eu, Miguel, Maria Laura, Maria Cândida, José Delfim e José Antônio.


(Parte destas memórias foi publicada no O Renascer Vianense, edição nº 37,  de agosto/2012. O Renascer Vianense é um Órgão da Academia Vianense de Letras, 
                           cujo presidente é o meu dileto amigo Luiz Alexandre Raposo.)

  
1. Papai era o Presidente da Irmandade dos Vicentinos, que todo domingo após a missa  das 7:00 ( celebrada  Padre. Manoel Arouche, Padre Eider ou Padre Heitor, que eram cantadas por Evangelina Soeiro, Didi Magalhães e outras) na Igreja da Matriz, se reunia com os outros membros para a reunião dominical. Em seguida iam visitar um pobre, geralmente leproso, tuberculoso, sem perna ou coisa pior, para entregar o dinheiro que fora arrecadado naquele domingo. Distribuíam também o famoso Leite do FISI, da Aliança Para o Progresso. Eu e Miguel ajudávamos papai e os amigos dele  nessa empreitada. Juntava mais de 200 pobres para receber o leite e umas bolinhas com vitamina.

2. Mamãe tinha uma clientela  todos os sábados, que ela denominava "Meus Pobres", ia pela manhã lá para casa e mamãe dava a cada um uma cuia de arroz (daquela cuia do queijo, lembra?) Eles subiam a escada e faziam fila ao redor da escada e entravam na varanda. Era uma média de um saco de arroz pilado de 60 kg todo sábado. Ela se sentia feliz com essa ação. Os pobres a chamavam de  D. Laura, Minha Branca, Minha Madrinha. Para os mais pobres ainda saia algum dinheiro, café, açúcar, remédio, etc.

3. A Fábrica Santa Maria, que ficava  no Sobrado Amarelo, era composta por uma  maquina Zacharias de beneficiar arroz (antes era um pilador  comum e pequeno), um motor horizontal de um cilindro da marca OTTO, um moinho de café (Café Pinheiro), uma máquina de  descaroçar algodão, uma prensa de algodão e uma serra de disco para cortar madeira, dois grande tanque para armazenar a água que refrigerava o motor, um depósito de madediras que ficava entre o poço e o depósito perto da casa do noso cachorro chamado gaúcho. Além do comércio e 14 depósitos que serviam para guardar babaçu, arroz, tucum, farinha. Tinha também uma salga onde eram colocados  os couros de bois em sal grosso. Essa  carga toda era para ser enviada a S.  Luís para firma A.O Gaspar.  Anexo a essa salga ficavam duas eiras que serviam também para secar gêneros. Por baixo dessas eiras estava montada  a máquina de torrar o café. O responsável pela torra do café era  Seu Mendes, que teve de fazer um curos específico em São Luís para aprender a deixar o café torrado no ponto certo.Trabalhavam com papai na loja: Mamãe, Agripino, Zé Gato, Ariovaldo, Delfizinho. Nos depósitos e corredor para receber os gêneros. Deco, Seu Dutra, Raimundão, Chico Purga,  João da Cruz, Chico de Raimundo Cândido, Sérgio, Martinho. No motor da usina de  beneficiar arroz: Seu Vieira, Seu Mendes, Zé Silva, Cidreira, e às vezes Palestra.



Eu, meus irmão Miguel e Toinho, com D. Otávia,  Raimundo Parma e o filho de Tio Manoel em frente ao Sobrado Amarelo (já em péssimo estado de conservação deixado pelos seus atuais donos)





4. O Café Pinheiro  ("De janeiro a janeiro, tome Café Pinheiro o Príncipe Brasileiro".  - esse era o slogan do café ) era torrado por Seu  Mendes. Moído, pesado, ensacado e vendido por mim e  meu irmão Miguel.

5. Os chauferes dos caminhões Zeduarte II, Fargo e Ford, eram: Baduca, Palestra, João Barroada e finalmente Fura Côco.

6. Mestres das lanchas de papai:  JP: Raimundo Oliveira, JL: Marister e  Estrela  Astréia: Juvêncio.

7. Desde 1958 Nós já tínhamos água encanada, chuveiro e sanitário com descarga, jirau para lavar louças com torneira.. Tudo feito  mediante um tonel de 200 litros e abastecido com água do poço através de uma bomba manual. Quando a bomba  quebrava a água era trazida em latas de vinte litros ( latas que vinham com  de querosene jacaré, que papai vendia na loja )pela escada da varandinha por João da Cruz.

8. Carroceiros ( que me lembro no momento)  que levavam os sacos de babaçú e outros gêneros para o porto de embarque, no lago de Viana: Euzébio Carreiro, Pedro Mendengo, Oficial,  Estevão Cujuba, Corrêa, João de Marculina.

9. Durante muitos carnavais (década de 1950,  Mamãe  mandava  Mundiquinha e Benedita Moraes confeccionar e bordar a fantasia que ela iria, juntamente com papai, dançar o  carnaval. Essa  fantasia (todo ano era uma diferente ) muitos vianenses ficavam aguardando a surpresa, que seria no sábado de carnaval. Tudo era comprado em São Luís ( veludo, lantejoulas, miçangas, paetês, penas, etc e tal) . As costureiras e mais tias Nucica e Fatima Campelo ( filhas de D. Zezé, a quem eu chamava respeitosamente  de Vovó Zezé.  Tia Fatima  era casa da com Zé Campelo, que tinha o ofício de sapateiro - que alfabetizaram  mamãe e todos nós, os  seis irmãos (Pinheirinho, Miguel, Maria Laura, Maria Cândida  José Delfim e José  Antônio), também ajudavam. Todas elas fazia o voto de silêncio para não comentar  nada com ninguém sobre a fantasia. No sábado ela e papai iam para o Casino (clube social e baile  de branco) dar início à festa. Dançavam e rodopiavam em todos os salões. Em seguida  iam visitar os bailes de preto, mulatinho e até das madalenas (putas).  Os outros dias era só no casino. Tinha também  tinha a visita  da Gruta de Satã (onde funcionava o Ginásio Antônio Lopes e, me parece que lá também a inesquecível D. Enedina Raposo morou com toda a família) lá também eles visitavam.

10. Mamãe fazia e vendia picolés (uva, leite, maracujá, cupu, bacuri, morango). Eram feitos na geladeira Electrolux, a querosene, que ficava na varandinha, com aquela maravilhosa vista para o campo verde (no verão) e  de água (no inverno). Eram picolés famosos e muito gostosos. Eram vendidos média de 30 a 40 por dia, servidos em copo de alumínio que brilhavam à luz do sol.  Esse dinheiro não entrava na despesa da casa. Ela juntava guardava e comprava mercadorias em S. Luís que estocava na Casa Mohana para investimento, renda e comercialização. Foi de grande importância na   compra do sobradão de azulejo  da  Rua Afonso Pena, 112, em São Luís. Comprado de Álvaro Silva, dono da Tiprogavura Teixeira  que funcionava em duas portas  Lá também funcionava a Farmácia Lourdes, nas outras duas portas. É um casarão de 5 portas frontais, um primeiro andar e um mirante. Com sua fachada em belíssimos  azulejos multicoloridos em  alto relevo.

11. Nós tivemos como empregadas domésticas: Conceição (que foi morar conosco antes de eu nascer), Antoninha ( que veio logo depois de Conceição), Maria de MiIindrino,  Auta, Tia Satira, Joana, Maria (estas duas vieram conosco para São Luís em 1967), Laura de Coraci, Tolentina, Firmina, Izabel.

12. O nosso barbeiro era Raimundo   Parma que, inicialmente tinha sua barbearia em um corredor da casa de Janoca Cidreira. Depois ele comprou um lado da casa de Janoca e se instalou lá até hoje. É a casa que fica ao lado do sobrado amarelo.

13. Lembro-me de Vovô Delfim que vinha todo dia  pela manhã tomar café  lá em casa. Ele chegava num cavalo branco, bem bonito e com as  crinas  toda enfeitada, papai ia buscá-lo na porta de entrada lá de casa. Conversavam e depois ele subia, onde mamãe já estava à espera dele. Ele brincava   comigo, Miguel e Maria Laura, a quem ele chamava de Minha Princesa. Acho que ele não conheceu Maria Cândida.

14. Nossas refeições eram  feita na varandinha. Após o jantar todos se reuniam  ao redor da rede (onde papai deitava) e da cadeira preguiçosa (onde ficava mamãe) para rezarmos o terço. Em seguida papai  descia para a loja onde ficava até às 23 horas.

15. Papai acordava todos os dias á 5:30  descia para a loja  onde fazia a correspondência para S. Luís (dando as instruções para mamãe ou para Seu Martiniano, que toma  conta do depósito do Desterro nº  105, onde ficava o depósito para as mercadoria que iam ou vinha de Viana nas nossas lanchas. Após a carta ele preparava  a relação dos passageiros e eu  Miguel íamos para o  Campo de Aviação (despachar os passageiros) esperar os aviões do taxi Aéreo Aliança, entregar a relação dos três passageiros, o dinheiro das passagens e a correspondência de papai para  S. Luís. Os comandantes dos teco-tecos eram:  Diegues, Gaudêncio, Pedrada,  Edmilson.


16. Teve uma época (década de 1950 a meados de 60) em que papai foi o homem mais importante e mais rico de Viana, a saber: Dono de:  2 caminhões,  04 lanchas, da Fábrica Santa Maria, do maior prédio de Viana  ( o famoso Sobrado Amarelo) com um comércio muito sortido,  do  sítio no povoado Careca, Prefeito  Municipal de Viana, Presidente da Associação Comercial, Presidente da Associação dos Vicentinos  da Igreja da Matriz, dono de uma usina de beneficiamento de arroz em uma máquina Zacharias, produzida na Cidade de Limeira, SP, do Café Pinheiro,  serraria, máquina de  descaroçar algodão, máquina de prensar algodão, grande comprador de  arroz, babaçu, tucum, couro de boi, agente do Taxi Aéreo Aliança, agente da Sul América Capitalização, dono de um casarão  e de um depósito em São Luís. Dono de  dois prédios na Praça Duque de Caxias (onde existiam as duas garagens dos caminhões), de duas casas na Rua Grande  de baixo (onde hoje mora Tio  Manoel ( chamadas casa cor-de-rosa e casa de azulejo),  uma dela foi muito tempo alugada para funcionar os Correios.  Saindo este de lá para o prédio definitivo, na praça da Prefeitura, onde existia  um matadouro), dono de um grande prédio no início da Rua Grande,  do lado direito de que desce para a praia, ainda bem perto do cemitério ( no local onde ele nasceu). lá ele instalou a  sede da torrefação do café Pinheiro na década de 70.

17 .Papai foi um dos responsáveis pela ida da Agência do Banco do Estado do Maranhão para Viana. No dia da inauguração foi o comerciante que mais avalizou abertura de contas na agência. Nessa  agência foi trabalhar, não sei se como gerente, Delfim, filho de Tia Rosica  e um amigo dele chamado Curvina. Eles almoçavam todos os dias lá em casa. Nessa época  mamãe e todos os filhos já estavam morando em S. Luís.

18. Eu e Miguel estudamos ( pela manhã  ) na Escola Paroquial D. José Delgado, isto é, no famoso Colégio do Padre. Ficava na Praça da Matriz. À tarde estudávamos na casa de Tia Nucica e Fatima Campelo, preparando as aulas para o dia seguinte. Foram nossa Professora: Filuca Cordeiro, Josefina Cordeiro,  Maria Antonia Gomes, Didi Magalhães e Edite Silva. Diretores: Padre Manoel Arouche, Padre Eider, Padre Heitor e D. Edite. Em 1961 eu  cursei até a metade do 5º ano em Viana e fui para o Marista em São Luís fazer o resto do 5º ano e em seguida o exame de admissão. Miguel foi para S. Luís em 62 ou 1963. Fomos morar  na Casa Mohana, sob a orientação dos Tios  João, Olga, Ibrahim, Kalil, Julieta e Alberto. Vovó Anice  ainda era viva. Pegávamos todos os dias o bonde para o canto da Viração e de lá íamos aguardar a hora de entrada  olhando as gatinhas do Colégio Rosa Castro, do Liceu Maranhense, sentados com amigos no banco da Praça Deodoro (que nessa época, ficava bem em frente onde hoje é o  banco do Brasil) para ficar olhando, flertando e admirando as  belas  estudantes que se dirigiam para o Colégio Rosa Castro, com aquela farda que ficou famosa: saia e blusa  e aquele cinto vermelho .  De 1962 a 1966 eu e Miguel fomos  escoteiros do Grupo São Jorge, do Marista, cujo Chefe era o Irmão  Ivo Anselmo.

19. Papai foi Prefeito de Viana durante 9 meses. Trabalhou muito, fez muitas benfeitorias para a cidade. Foi  a época em que mais se abriu estrada na base da picareta, pá e enxada. Em Viana havia um trator D-6 , da Prefeitura, quebrado há muito tempo, e o prefeito antes de papai nunca havia mandado consertar. Papai enquanto prefeito tratou de mandar reformar todo o trator (motor, lâminas, pneus, pintura, etc) Nessa época Sarney estava lutando para tirar papai da prefeitura, pois ele era do lado de Newton Bello - cara de Onça - e  Sarney era contra. O certo é que conseguiram tirar papai da prefeitura e assumiu, me parece que foi Antônio Barros. Dois dias depois de papai sair da prefeitura chegou de avião a última peça para  fazer o trator funcionar, o induzido do motor de arranque. Papai entregou ao novo prefeito.  Quando papai, ainda como prefeito, ia a S. Luís para falar com o Governador Newton Bello, ele tirava do bolso o broche  com uma cara de onça e colocava na lapela.

20. Papai tinha um chaufeur de caminhão que se chamava Eduardo. Certo dia antes de  viajar para o centro (interior de Viana), parece-me que esses fato aconteceu em 1954, ele pediu a papai  que lhe emprestasse o seu rifle 44 papo amarelo, pois ele desejava matar uma onça  lá  nesse centro, que toda vez atravessava na frente do caminhão ( chamava-se centro os locais ou povoados onde os  caminhões iam  buscar babaçu, arroz tucum, algodão., etc) Papai mandou-o pegar o rifle que estava  atrás do cofre . O caminhão estava parado  no meio do campo por trás lá de casa.  Também  estava  no campo um avião parado a espera de passageiro (no verão o Campo do Areial servia de pista e pouso para teco-tecos, eles pousavam no areal e iam até perto lá de casa para deixar os passageiros) íamos descendo para ver o avião  eu, Miguel e Antonio, primo de papai. Já estávamos perto da cerca lá de casa avistando o  caminhão e o avião, quando eu senti um impacto na minha cabeça, uma bola de fogo, fiquei tonto  e comecei  levantar e cair, levantava e caia, mesmo assim ainda vi papai saindo da porta do escritório, depois me lembro de ele me carregando e  colocando um lenço e minha orelha esquerda.É só o que me lembro do tiro de rifle que eu levei, que passou raspando pela minha cabeça e atravessou a minha orelha esquerda. Não me lembro nem da dor. Acontece que  papai não disse a Eduardo que  o rifle estava com bala na agulha. Ele pegou o rifle,  e na hora que foi guardar o rifle na boléia do caminhão bateu com o mesmo na porta que fez com que disparasse. O médico que me tratou foi o Dr. Araújo. Graças a Deus e ao Dr. Araújo, que não fiquei surdo, apenas com a cicatriz. Depois que soube que assim que Miguel e Antonio me viram cair saíram correndo e foram chamar papai, quando já viram que papai já descia correndo, pois havia ouvido o som do disparo. Essa bala após atravessar a minha orelha  deixou uma marca na testa do final da calçada do sobradão que ficava no início do campo, atrás lá de casa, perto da salga (casa aonde os couros de bois, crus eram salgados para depois irem para S. Luís). A última vez que  fui a Viana,  fui visitar a calçada e ver  o famoso  “ buraco da bala” como passou a ser chamado. Infelizmente a calçada estava completamente tomada por um aterro, o que tornou impossível  ver a marca deixada pela bala após atravessar a minha orelha.

21. No inverno as lanchas de papai entravam no lago e vinham ancorar na calçada lá de casa. Na dita calçada que falei acima.  No verão, aproveitávamos a altura dessa mesma calçada para  montar nos cavalos e passear nos verdes campos.

 22. Ao lado da salga (que ficava no nosso quintal, perto do galinheiro ao pé da varandinha, ficavam as eiras, onde era colocado o arroz para secar ao sol, onde eu e Miguel  ficávamos muito tempo vigiando para espantar passarinhos e pombos que vinham comer o arroz. Na beira do campo, perto da salga havia uma horta e um poço onde mamãe ajudada por Conceição e João da Cruz ( um preto feio mas muito bom e honesto, trabalhador, pelo qual eu tinha a maior estima e hoje tenho  uma grande saudade. Ele era o que eu costumo chamar: preto branco. Nessa horta ela plantava tomate e pimentão. Era um tipo de tomate gigante e muito gostoso, que ela vendia em Viana e  mandava  S. Luís. Essa venda de tomate tinha o mesmo objetivo da venda de picolés.

23. Papai viajava muito para S. Luís. Tinha semana que ele ia e voltada 2 vezes. Como  ele o Agente da Empresa  de Táxi Aéreo Aliança, e era quem  fazia as reserva, ele  necessitava de deixar sempre uma vaga de sobreaviso para uma necessidade urgente. Então ele fazia várias reserva em nome  de Paulo Lopes.

24. Mamãe ajudava papai no escritório. Todos os dias às 9:30 da manhã  ela descia para a loja e lá  dava início ao trabalho. A mesa dela ficava  ao lado esquerdo de papai.  Agripino me dizia que quando ela entrava na loja parecia que todo o  local se iluminava com o sorriso dela, com a alegria dela, com  o famoso Bom Dia que ela  dava a todos, o que fazia Papai ficar todo orgulhoso da sua bela esposa Eles subiam às 12:30 para o almoço. Almoçávamos todos juntos. Papai na cabeceira, mamãe à sua esquerda, eu à sua direita, Miguel depois de mim, Maria Laura ao lado de Mamãe e Maria Cândida em seguida. Conceição ficava localizada   em pé, bem atrás de papai para nos servir. A comida era trazida por ele e Antoninha. Quando chegávamos à mesa  esta já estava posta e com todos os pratos quentes. Delfim e Toinho almoçavam na cozinha,  pois eram  ainda pequeninos. Toinho não se  lembra  muito de mamãe. Após o almoço descansavam um pouco na varandinha e papai descia. Mamãe fica em cima fazendo as coisas de casa ou descansando mais um pouco O jantar era 19 horas.. Havia a reza do terço com já falei. Papai descia para o escritório, mamãe ficava  em casa e eu e Miguel íamos  dar uma  rápida volta na Praça da Prefeitura ou então ficávamos conversando no Beco de Raimundo Parma, ou no Beco de Leandro Ericeira, no Canto Grande, no canto de Lino Lopes na Praça da Matriz  ou ainda, dando uma volta em nossa bicicleta: uma merckswiss vermelha, com quadro super reforçado.

25. Papai de vez em quando viajava para o centro para conversar com os fregueses dele: Martinho Feitas, Álvaro  Santos, Augusto Trindade, Josias Vieira, e muitos e muitos outros. Quem ficava tomando conta do escritório era Agripino Serra. Nesse período mamãe não descia para o escritório. Qualquer dúvida ela tirava lá em cima. Papai foi fazer uma viagem de  5 dias por vários centros: Caminho Grande,  Retiro, Encruza, Estrela, Estrada, Rio dos Peixes, Três Palmeiras, Fala Só,  Canajuba,  Santo Inácio, São Felipe e por último num centro  chamado Lata. Lá o caminhão Fargo Vermelho quebrou, e ele mandou uma carta para Agripino dando umas orientações e pedindo as peças  necessárias para o caminhão. Ele começou a carta assim: " Agripino,  Saúde. Estou com o caminhão no prego aqui na Lata, mas antes quero te dizer que: “ estou na Lata mas não sou sardinha” .   e continuou com a  correspondência.

26. Estava eu presente  no dia  em que Papai apresentou Zé Baixinho (Estevam) (hoje uma das estrelas maiores de Viana e membro da Academia Vianense de Letras) a Padrinho João Mohana. Estávamos (Eu, Papai, Pad. João, Mamãe e Miguel) sentados no capim do Tio Sacoã, a passeio, olhando a paisagem, em pic-nic, quando  Papai ao vê-lo disse : Padre Mohana, aquele rapaz tem uma voz muito bonita. Papai o chamou, apresentou-o e pediu que ele cantasse algo. Ele cantou A Flor do Meu Bairro. Padrinho João ficou impressionadíssimo com a voz, que pediu a papai que  mandasse Zé Baixinho para falar com ele em São Luís E aí tudo começou. Inicialmente ele foi apresentado para o Maestro  Bruno Vizhui, Diretor da Escola de música do Maranhão. Por não ter onde morar, ele foi aceito para ficar uns temos morando na escola, que se localizava na Av. Beira Mar.

27.  Mais tarde vai ter mais......

Rua  Cônego Hemetério em Viana - Maranhão. A Rua dos Sobrados

A foto que segue logo abaixo, para quem se lembra, é da Rua Cônego Hemetério, em nossa querida Viana - Maranhão. Essa famosa rua era possuidora da presença de 5 sobradões, a saber: 
1º - O Sobrado do Maestro Mguel Dias, que ficava  na entrada da Praça da Matriz;
2º - O Sobrado do Dr. Ozimo de Carvalho, onde ficava a Pharmacia Brasil;
3º - O Sobrado grande e cor de rosa  de cinco portas, onde por muito tempo viveu D. "Maria de  
       Fabrício" exímia costureira de lombos de boi;
4º - O Sobrado Amarelo de oito portas, onde funcionou a famosa Fábrica Santa Maria, de propriedade 
       durante muito tempo do Sr. José Mendes Pinheiro
5º - O Sobrado de Victor Hugo, já perto da Rua da Ponta, onde muito tempo depois foi  a residência da 
      família do Sr. Oiama Cardoso e depois de Feliciano Gonçalves

Parece-me que na foto do Sobrado Amarelo está meu pai, Zé Pinheiro conversando com Seu Hugo  Soeiro, irmão de José e Manoel Soeiro, homens sérios que sé engrandeceram a estirpe de vianenses que merecem respeito. Na janela está minha mãe Laura Mohana Pinheiro, em pose para a foto.

Infelizmente hoje só existe de pé o Sobrado de Victor Hugo. Os outros, ou desabaram, ou estão em fase de desabamento. Triste  fim de uma rua e de prédios que fizeram história na nossa querida Viana. Hoje maltratada e desfigurada das suas belezas e tradições.


6 comentários:

  1. Excelente texto e belíssima foto, meus parabéns!!! Abraços

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  2. Pinheiro, sou Matheus, neto de Manoel Soeiro. Gostaria de parabenizar pelo excelente post. Um texto que trás lembranças e que conta a história de Viana para a nova geração que não teve oportunidade de vivenciar esse tempo.

    Excelente trabalho.

    Abraço!

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  3. Saudades do meu amigo Pinheiro Filho. Nalva

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  4. Fiquei encantada com a história. Viajei no tempo, como se estivesse vivido, exatamente, aquela época. Quando passava pelo sobrado, ficava imaginando, quem teria morado por ali, e como era a vida naquela época. Parabens. Agora, quando eu passar por lá novamente, vou vivencair, todo relato contado. Grande abraço.

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  5. Fiquei encantada com a história. Viajei no tempo, como se estivesse vivido, exatamente, aquela época. Quando passava pelo sobrado, ficava imaginando, quem teria morado por ali, e como era a vida naquela época. Parabens. Agora, quando eu passar por lá novamente, vou vivencair, todo relato contado. Grande abraço.

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  6. me lembro bem desse sobrado brinquei muito ai com vocês lembro do quarto do sarampo da merenda das freiras que dona conceiçâo ou dona antoninha faziam

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