Foto por Luiz Alexandre Raposo
Esta
bela foto, captada pelas lentes do meu amigo e conterrâneo, também
Presidente da Academia Vianense de Letras, me faz retornar aos idos de
1949 quando, naquela casa de Deus, fui batizado. Ali, também pela mãos
do Padre Manoel Aroucha, aprendi a ser "coroinha". Muitas vezes tive o
privilégio de ajudá-lo em sua missas matutinas, naquela época celebradas
ainda em latim. No prédio azul, chamado de Palácio do Padre, morava o
Padre Aroucha. Na parte de baixo, em sala frontal e na sala ao lado
direito, após as missas dominicais matutinas, reunia-se a Irmandade São
Vicente de Paulo. Naquela época presidida por meu saudoso pai Zé
Pinheiro, em companhia e participação de muitos outros conterrâneos
Vicentinos. Alí, após os ritos cerimoniais, havia a distribuição de
leite em pó para os pobres que todos os domingos pra lá se dirigiam. A
entrega desse leite era fruto, se não me falha a memória, do Programa
Aliança para o Progresso (Brasil/Estados Unidos). Lembro-me que antes
de papai finalizar a reunião eu passava com uma pequena sacola para
solicitar a cada vicentino a sua contribuição em dinheiro. A importância
coletada era conferida alí diante de todos e entregue a um necessitado,
inválido ou hanseniano. Terminada a reunião, os vicentinos se dirigiam
até a morada do escohido desse domingo para fazer a doação. Bons tempos
aqueles...
___________________________________________
(Parte destas memórias foi publicada no O Renascer Vianense, edição nº 37, de agosto/2012. O Renascer Vianense é um Órgão da Academia Vianense de Letras,
cujo presidente é o meu dileto amigo Luiz Alexandre Raposo.)
Rua Cônego Hemetério em Viana - Maranhão. A Rua dos Sobrados
A foto que segue logo abaixo, para quem se lembra, é da Rua Cônego Hemetério, em nossa querida Viana - Maranhão. Essa famosa rua era possuidora da presença de 5 sobradões, a saber:
1º - O Sobrado do Maestro Mguel Dias, que ficava na entrada da Praça da Matriz;
2º - O Sobrado do Dr. Ozimo de Carvalho, onde ficava a Pharmacia Brasil;
3º - O Sobrado grande e cor de rosa de cinco portas, onde por muito tempo viveu D. "Maria de
Fabrício" exímia costureira de lombos de boi;
4º - O Sobrado Amarelo de oito portas, onde funcionou a famosa Fábrica Santa Maria, de propriedade
durante muito tempo do Sr. José Mendes Pinheiro
5º - O Sobrado de Victor Hugo, já perto da Rua da Ponta, onde muito tempo depois foi a residência da
família do Sr. Oiama Cardoso e depois de Feliciano Gonçalves
Parece-me que na foto do Sobrado Amarelo está meu pai, Zé Pinheiro conversando com Seu Hugo Soeiro, irmão de José e Manoel Soeiro, homens sérios que sé engrandeceram a estirpe de vianenses que merecem respeito. Na janela está minha mãe Laura Mohana Pinheiro, em pose para a foto.
Infelizmente hoje só existe de pé o Sobrado de Victor Hugo. Os outros, ou desabaram, ou estão em fase de desabamento. Triste fim de uma rua e de prédios que fizeram história na nossa querida Viana. Hoje maltratada e desfigurada das suas belezas e tradições.
___________________________________________
UM POUCO DE VIANA EM MIM
Nasci em Viana, Maranhão, no dia 12 de
maio de 1949, em um quarto do famoso Sobrado
Amarelo (quarto todo pintado de azul, com uma técnica especial que parecia
nuvem, dando a impressão que se estava no céu: obra do famoso pintor de Viana,
Benedito Gordura. O Sobrado Amarelo, também chamado de Fábrica Santa Maria, era
o maior prédio da cidade de Viana, localiza-se
à Rua Cônego Hemetério, à beira do formoso Lago de Viana. Era a residência dos meus pais José Mendes Pinheiro e
Laura Mohana Pinheiro. Sou o primogênito de seis irmão: Eu, Miguel, Maria Laura, Maria Cândida,
José Delfim e José Antônio.
(Parte destas memórias foi publicada no O Renascer Vianense, edição nº 37, de agosto/2012. O Renascer Vianense é um Órgão da Academia Vianense de Letras,
cujo presidente é o meu dileto amigo Luiz Alexandre Raposo.)
1. Papai era o
Presidente da Irmandade dos Vicentinos, que todo domingo após a missa das
7:00 ( celebrada Padre. Manoel Arouche, Padre Eider ou Padre Heitor, que eram cantadas
por Evangelina Soeiro, Didi Magalhães e outras) na Igreja da Matriz, se reunia
com os outros membros para a reunião dominical. Em seguida iam visitar um pobre,
geralmente leproso, tuberculoso, sem perna ou coisa pior, para entregar o
dinheiro que fora arrecadado naquele domingo. Distribuíam também o famoso Leite
do FISI, da Aliança Para o Progresso. Eu e Miguel ajudávamos papai e os amigos
dele nessa empreitada. Juntava mais de 200 pobres para receber o leite e
umas bolinhas com vitamina.
2. Mamãe tinha uma
clientela todos os sábados, que ela denominava "Meus Pobres",
ia pela manhã lá para casa e mamãe dava a cada um uma cuia de arroz (daquela
cuia do queijo, lembra?) Eles subiam a escada e faziam fila ao redor da escada
e entravam na varanda. Era uma média de um saco de arroz pilado de 60 kg todo
sábado. Ela se sentia feliz com essa ação. Os pobres a chamavam de D. Laura,
Minha Branca, Minha Madrinha. Para os mais pobres ainda saia algum dinheiro, café,
açúcar, remédio, etc.
3. A Fábrica Santa
Maria, que ficava no Sobrado Amarelo, era composta por uma maquina Zacharias de beneficiar arroz (antes
era um pilador comum e pequeno), um motor horizontal de um cilindro
da marca OTTO, um moinho de café (Café Pinheiro), uma máquina de
descaroçar algodão, uma prensa de algodão e uma serra de disco para cortar
madeira, dois grande tanque para armazenar a água que refrigerava o motor, um depósito de madediras que ficava entre o poço e o depósito perto da casa do noso cachorro chamado gaúcho. Além do comércio e 14 depósitos que serviam para guardar babaçu,
arroz, tucum, farinha. Tinha também uma salga onde eram colocados os
couros de bois em sal grosso. Essa carga toda era para ser enviada a
S. Luís para firma A.O Gaspar. Anexo a essa salga ficavam duas eiras que serviam também para secar gêneros. Por baixo dessas eiras estava montada a máquina de torrar o café. O responsável pela torra do café era Seu Mendes, que teve de fazer um curos específico em São Luís para aprender a deixar o café torrado no ponto certo.Trabalhavam com papai na loja:
Mamãe, Agripino, Zé Gato, Ariovaldo, Delfizinho. Nos depósitos e
corredor para receber os gêneros. Deco, Seu Dutra, Raimundão, Chico
Purga, João da Cruz, Chico de Raimundo Cândido, Sérgio, Martinho. No
motor da usina de beneficiar arroz: Seu
Vieira, Seu Mendes, Zé Silva, Cidreira, e às vezes Palestra.
![]() | |||||||||||||||||||||||
Eu, meus irmão Miguel e Toinho, com D. Otávia, Raimundo Parma e o filho de Tio Manoel em frente ao Sobrado Amarelo (já em péssimo estado de conservação deixado pelos seus atuais donos) |
4. O Café
Pinheiro ("De janeiro a janeiro, tome Café Pinheiro o Príncipe
Brasileiro". - esse era o slogan do café ) era torrado por
Seu Mendes. Moído, pesado, ensacado e vendido por mim e meu irmão Miguel.
5. Os chauferes dos
caminhões Zeduarte II, Fargo e Ford, eram: Baduca, Palestra, João Barroada e
finalmente Fura Côco.
6. Mestres das
lanchas de papai: JP: Raimundo Oliveira, JL: Marister e Estrela
Astréia: Juvêncio.
7. Desde 1958 Nós
já tínhamos água encanada, chuveiro e sanitário com descarga, jirau para lavar louças
com torneira.. Tudo feito mediante um tonel de 200 litros e abastecido
com água do poço através de uma bomba manual. Quando a bomba quebrava a água
era trazida em latas de vinte litros ( latas que vinham com de querosene jacaré, que papai vendia na loja
)pela escada da varandinha por João da Cruz.
8. Carroceiros ( que
me lembro no momento) que levavam os
sacos de babaçú e outros gêneros para o porto de embarque, no lago de Viana:
Euzébio Carreiro, Pedro Mendengo, Oficial, Estevão Cujuba, Corrêa, João
de Marculina.
9. Durante muitos
carnavais (década de 1950, Mamãe mandava Mundiquinha e
Benedita Moraes confeccionar e bordar a fantasia que ela iria, juntamente com
papai, dançar o carnaval. Essa fantasia (todo ano era uma diferente
) muitos vianenses ficavam aguardando a surpresa, que seria no sábado de
carnaval. Tudo era comprado em São Luís ( veludo, lantejoulas, miçangas,
paetês, penas, etc e tal) . As costureiras e mais tias Nucica e Fatima Campelo
( filhas de D. Zezé, a quem eu chamava respeitosamente de Vovó Zezé. Tia Fatima era casa da com Zé Campelo, que tinha o ofício
de sapateiro - que alfabetizaram mamãe e todos nós, os seis irmãos (Pinheirinho, Miguel, Maria Laura,
Maria Cândida José Delfim e José Antônio), também ajudavam. Todas elas fazia o
voto de silêncio para não comentar nada com ninguém sobre a fantasia. No
sábado ela e papai iam para o Casino (clube social e baile de
branco) dar início à festa. Dançavam e rodopiavam em todos os salões. Em
seguida iam visitar os bailes de preto, mulatinho e até das madalenas
(putas). Os outros dias era só no casino. Tinha também tinha a visita
da Gruta de Satã (onde funcionava o Ginásio Antônio Lopes e, me parece
que lá também a inesquecível D. Enedina Raposo morou com toda a família) lá
também eles visitavam.
10. Mamãe fazia e
vendia picolés (uva, leite, maracujá, cupu, bacuri, morango). Eram feitos na
geladeira Electrolux, a querosene, que ficava na varandinha, com aquela
maravilhosa vista para o campo verde (no verão) e de água (no inverno).
Eram picolés famosos e muito gostosos. Eram vendidos média de 30 a 40 por dia,
servidos em copo de alumínio que brilhavam à luz do sol. Esse dinheiro não entrava na despesa da casa.
Ela juntava guardava e comprava mercadorias em S. Luís que estocava na Casa
Mohana para investimento, renda e comercialização. Foi de grande importância
na compra do sobradão de azulejo da Rua Afonso
Pena, 112, em São Luís. Comprado de Álvaro Silva, dono da Tiprogavura Teixeira que funcionava em duas portas Lá também funcionava a Farmácia Lourdes, nas
outras duas portas. É um casarão de 5 portas frontais, um primeiro andar e um
mirante. Com sua fachada em belíssimos azulejos multicoloridos em alto relevo.
11. Nós tivemos
como empregadas domésticas: Conceição (que foi morar conosco antes de eu
nascer), Antoninha ( que veio logo depois de Conceição), Maria de MiIindrino, Auta, Tia Satira, Joana, Maria (estas duas
vieram conosco para São Luís em 1967), Laura de Coraci, Tolentina, Firmina, Izabel.
12. O nosso
barbeiro era Raimundo Parma que, inicialmente tinha sua barbearia
em um corredor da casa de Janoca Cidreira. Depois ele comprou um lado da casa
de Janoca e se instalou lá até hoje. É a casa que fica ao lado do sobrado
amarelo.
13. Lembro-me de
Vovô Delfim que vinha todo dia pela manhã tomar café lá em casa.
Ele chegava num cavalo branco, bem bonito e com as crinas toda enfeitada, papai ia
buscá-lo na porta de entrada lá de casa. Conversavam e depois ele subia, onde
mamãe já estava à espera dele. Ele brincava comigo, Miguel e Maria
Laura, a quem ele chamava de Minha Princesa. Acho que ele não conheceu Maria
Cândida.
14. Nossas
refeições eram feita na varandinha. Após o jantar todos se reuniam
ao redor da rede (onde papai deitava) e da cadeira preguiçosa (onde ficava
mamãe) para rezarmos o terço. Em seguida papai descia para a loja onde
ficava até às 23 horas.
15. Papai acordava
todos os dias á 5:30 descia para a loja onde fazia a
correspondência para S. Luís (dando as instruções para mamãe ou para Seu
Martiniano, que toma conta do depósito do Desterro nº 105, onde
ficava o depósito para as mercadoria que iam ou vinha de Viana nas nossas
lanchas. Após a carta ele preparava a relação dos passageiros e eu Miguel íamos para o Campo de
Aviação (despachar os passageiros) esperar os aviões do taxi Aéreo
Aliança, entregar a relação dos três passageiros, o dinheiro das passagens e a
correspondência de papai para S. Luís. Os comandantes dos teco-tecos
eram: Diegues, Gaudêncio, Pedrada, Edmilson.
16. Teve uma época (década
de 1950 a meados de 60) em que papai foi o homem mais importante e mais
rico de Viana, a saber: Dono de: 2 caminhões, 04 lanchas, da
Fábrica Santa Maria, do maior prédio de Viana ( o famoso Sobrado Amarelo) com um comércio
muito sortido, do sítio no povoado Careca, Prefeito Municipal
de Viana, Presidente da Associação Comercial, Presidente da Associação dos
Vicentinos da Igreja da Matriz, dono de
uma usina de beneficiamento de arroz em uma máquina Zacharias, produzida na
Cidade de Limeira, SP, do Café Pinheiro, serraria, máquina de descaroçar algodão, máquina de prensar algodão,
grande comprador de arroz, babaçu, tucum, couro de boi, agente do Taxi
Aéreo Aliança, agente da Sul América Capitalização, dono de um casarão e
de um depósito em São Luís. Dono de dois prédios na Praça Duque de Caxias
(onde existiam as duas garagens dos caminhões), de duas casas na Rua Grande
de baixo (onde hoje mora Tio Manoel ( chamadas casa cor-de-rosa e casa de
azulejo), uma dela foi muito tempo alugada para funcionar os Correios. Saindo este de lá para o prédio definitivo, na
praça da Prefeitura, onde existia um matadouro), dono de um grande prédio
no início da Rua Grande, do lado direito
de que desce para a praia, ainda bem perto do cemitério ( no local onde ele
nasceu). lá ele instalou a sede da torrefação do café Pinheiro na década
de 70.
17 .Papai foi um
dos responsáveis pela ida da Agência do Banco do Estado do Maranhão para Viana.
No dia da inauguração foi o comerciante que mais avalizou abertura de contas na
agência. Nessa agência foi trabalhar, não sei se como gerente, Delfim,
filho de Tia Rosica e um amigo dele chamado Curvina. Eles almoçavam todos
os dias lá em casa. Nessa época mamãe e todos os filhos já estavam
morando em S. Luís.
18. Eu e Miguel
estudamos ( pela manhã ) na Escola Paroquial D. José Delgado, isto
é, no famoso Colégio do Padre. Ficava na Praça da Matriz. À tarde
estudávamos na casa de Tia Nucica e Fatima Campelo, preparando as aulas
para o dia seguinte. Foram nossa Professora: Filuca Cordeiro, Josefina
Cordeiro, Maria Antonia Gomes, Didi Magalhães e Edite Silva. Diretores:
Padre Manoel Arouche, Padre Eider, Padre Heitor e D. Edite. Em 1961 eu
cursei até a metade do 5º ano em Viana e fui para o Marista em São Luís fazer o
resto do 5º ano e em seguida o exame de admissão. Miguel foi para S. Luís em 62
ou 1963. Fomos morar na Casa Mohana, sob a orientação dos Tios
João, Olga, Ibrahim, Kalil, Julieta e Alberto. Vovó Anice ainda era
viva. Pegávamos todos os dias o bonde para o canto da Viração e de lá íamos
aguardar a hora de entrada olhando as gatinhas do Colégio Rosa Castro, do
Liceu Maranhense, sentados com amigos no banco da Praça Deodoro (que nessa
época, ficava bem em frente onde hoje é o banco do Brasil) para ficar
olhando, flertando e admirando as
belas estudantes que se dirigiam
para o Colégio Rosa Castro, com aquela farda que ficou famosa: saia e blusa e aquele cinto vermelho . De 1962 a 1966
eu e Miguel fomos escoteiros do Grupo São Jorge, do Marista, cujo Chefe
era o Irmão Ivo Anselmo.
19. Papai foi
Prefeito de Viana durante 9 meses. Trabalhou muito, fez muitas benfeitorias
para a cidade. Foi a época em que mais
se abriu estrada na base da picareta, pá e enxada. Em Viana havia um trator
D-6 , da Prefeitura, quebrado há muito tempo, e o prefeito antes de papai
nunca havia mandado consertar. Papai enquanto prefeito tratou de mandar reformar
todo o trator (motor, lâminas, pneus, pintura, etc) Nessa época Sarney estava
lutando para tirar papai da prefeitura, pois ele era do lado de Newton Bello -
cara de Onça - e Sarney era contra. O certo é que conseguiram tirar papai
da prefeitura e assumiu, me parece que foi Antônio Barros. Dois dias depois de
papai sair da prefeitura chegou de avião a última peça para fazer o
trator funcionar, o induzido do motor de arranque. Papai entregou ao novo
prefeito. Quando papai, ainda como prefeito,
ia a S. Luís para falar com o Governador Newton Bello, ele tirava do bolso o broche
com uma cara de onça e colocava na lapela.
20. Papai tinha um
chaufeur de caminhão que se chamava Eduardo. Certo dia antes de viajar para o centro (interior de Viana), parece-me
que esses fato aconteceu em 1954, ele pediu a papai que lhe emprestasse o
seu rifle 44 papo amarelo, pois ele desejava matar uma onça lá nesse
centro, que toda vez atravessava na frente do caminhão ( chamava-se centro
os locais ou povoados onde os caminhões iam buscar babaçu, arroz
tucum, algodão., etc) Papai mandou-o pegar o rifle que estava atrás do
cofre . O caminhão estava parado no meio do campo por trás lá de
casa. Também estava no campo um avião parado a espera de
passageiro (no verão o Campo do Areial servia de pista e pouso para
teco-tecos, eles pousavam no areal e iam até perto lá de casa para deixar os
passageiros) íamos descendo para ver o avião eu, Miguel e Antonio, primo
de papai. Já estávamos perto da cerca lá de casa avistando o
caminhão e o avião, quando eu senti um impacto na minha cabeça, uma bola de fogo,
fiquei tonto e comecei levantar e cair, levantava e caia, mesmo
assim ainda vi papai saindo da porta do escritório, depois me lembro de ele me
carregando e colocando um lenço e minha orelha esquerda.É só o que me
lembro do tiro de rifle que eu levei, que passou raspando pela minha cabeça e
atravessou a minha orelha esquerda. Não me lembro nem da dor. Acontece
que papai não disse a Eduardo que o rifle estava com bala na agulha.
Ele pegou o rifle, e na hora que foi guardar o rifle na boléia do
caminhão bateu com o mesmo na porta que fez com que disparasse. O médico que me
tratou foi o Dr. Araújo. Graças a Deus e ao Dr. Araújo, que não fiquei surdo,
apenas com a cicatriz. Depois que soube que assim que Miguel e Antonio me viram
cair saíram correndo e foram chamar papai, quando já viram que papai já descia
correndo, pois havia ouvido o som do disparo. Essa bala após atravessar a minha
orelha deixou uma marca na testa do final da calçada do sobradão que
ficava no início do campo, atrás lá de casa, perto da salga (casa aonde os
couros de bois, crus eram salgados para depois irem para S. Luís). A última vez
que fui a Viana, fui visitar a calçada e ver o famoso
“ buraco da bala” como passou a ser chamado. Infelizmente a calçada estava
completamente tomada por um aterro, o que tornou impossível ver a marca deixada pela bala após atravessar
a minha orelha.
21. No inverno as
lanchas de papai entravam no lago e vinham ancorar na calçada lá de casa. Na
dita calçada que falei acima. No verão, aproveitávamos a altura dessa
mesma calçada para montar nos cavalos e passear nos verdes
campos.
22. Ao lado da salga
(que ficava no nosso quintal, perto do galinheiro ao pé da varandinha, ficavam
as eiras, onde era colocado o arroz para secar ao sol, onde eu e Miguel
ficávamos muito tempo vigiando para espantar passarinhos e pombos que vinham
comer o arroz. Na beira do campo, perto da salga havia uma horta e um poço onde
mamãe ajudada por Conceição e João da Cruz ( um preto feio mas muito bom e
honesto, trabalhador, pelo qual eu tinha a maior estima e hoje tenho uma
grande saudade. Ele era o que eu costumo chamar: preto branco. Nessa horta ela
plantava tomate e pimentão. Era um tipo de tomate gigante e muito gostoso, que
ela vendia em Viana e mandava S. Luís. Essa venda de tomate tinha o
mesmo objetivo da venda de picolés.
23. Papai
viajava muito para S. Luís. Tinha semana que ele ia e voltada 2 vezes.
Como ele o Agente da Empresa de Táxi Aéreo Aliança, e era
quem fazia as reserva, ele necessitava de deixar sempre uma vaga de
sobreaviso para uma necessidade urgente. Então ele fazia várias reserva em
nome de Paulo Lopes.
24. Mamãe ajudava
papai no escritório. Todos os dias às 9:30 da manhã ela descia para a loja e lá dava início
ao trabalho. A mesa dela ficava ao lado esquerdo de papai. Agripino
me dizia que quando ela entrava na loja parecia que todo o local se
iluminava com o sorriso dela, com a alegria dela, com o famoso Bom Dia que ela dava a todos, o que fazia Papai ficar todo
orgulhoso da sua bela esposa Eles subiam às 12:30 para o almoço. Almoçávamos
todos juntos. Papai na cabeceira, mamãe à sua esquerda, eu à sua
direita, Miguel depois de mim, Maria Laura ao lado de Mamãe e Maria Cândida em
seguida. Conceição ficava localizada em pé, bem atrás de papai
para nos servir. A comida era trazida por ele e Antoninha. Quando chegávamos à mesa
esta já estava posta e com todos os pratos quentes. Delfim e Toinho
almoçavam na cozinha, pois eram ainda
pequeninos. Toinho não se lembra muito de mamãe. Após o almoço descansavam um
pouco na varandinha e papai descia. Mamãe fica em cima fazendo as coisas de
casa ou descansando mais um pouco O jantar era 19 horas.. Havia a reza do terço
com já falei. Papai descia para o escritório, mamãe ficava em casa e eu e
Miguel íamos dar uma rápida volta na Praça da Prefeitura ou então
ficávamos conversando no Beco de Raimundo Parma, ou no Beco de Leandro
Ericeira, no Canto Grande, no canto de Lino Lopes na Praça da Matriz ou
ainda, dando uma volta em nossa bicicleta: uma merckswiss vermelha, com quadro super
reforçado.
25. Papai de vez em
quando viajava para o centro para conversar com os fregueses dele: Martinho
Feitas, Álvaro Santos, Augusto Trindade,
Josias Vieira, e muitos e muitos outros. Quem ficava tomando conta do
escritório era Agripino Serra. Nesse período mamãe não descia para o escritório.
Qualquer dúvida ela tirava lá em cima. Papai foi fazer uma viagem de 5
dias por vários centros: Caminho Grande, Retiro, Encruza, Estrela,
Estrada, Rio dos Peixes, Três Palmeiras, Fala Só, Canajuba, Santo Inácio, São Felipe e por último num
centro chamado Lata. Lá o caminhão Fargo Vermelho quebrou,
e ele mandou uma carta para Agripino dando umas orientações e pedindo as
peças necessárias para o caminhão. Ele começou a carta assim: "
Agripino, Saúde. Estou com o caminhão no prego aqui na Lata, mas antes
quero te dizer que: “ estou na Lata mas não sou sardinha” . e
continuou com a correspondência.
26. Estava eu
presente no dia em que Papai
apresentou Zé Baixinho (Estevam) (hoje uma das estrelas maiores de Viana e
membro da Academia Vianense de Letras) a Padrinho João Mohana. Estávamos (Eu, Papai,
Pad. João, Mamãe e Miguel) sentados no capim do Tio Sacoã, a passeio, olhando a
paisagem, em pic-nic, quando Papai ao vê-lo disse : Padre Mohana, aquele
rapaz tem uma voz muito bonita. Papai o chamou, apresentou-o e pediu que ele
cantasse algo. Ele cantou A Flor do Meu Bairro. Padrinho João ficou impressionadíssimo
com a voz, que pediu a papai que mandasse
Zé Baixinho para falar com ele em São Luís E aí tudo começou. Inicialmente ele
foi apresentado para o Maestro Bruno
Vizhui, Diretor da Escola de música do Maranhão. Por não ter onde morar, ele
foi aceito para ficar uns temos morando na escola, que se localizava na Av.
Beira Mar.
27. Mais tarde vai ter mais......
A foto que segue logo abaixo, para quem se lembra, é da Rua Cônego Hemetério, em nossa querida Viana - Maranhão. Essa famosa rua era possuidora da presença de 5 sobradões, a saber:
1º - O Sobrado do Maestro Mguel Dias, que ficava na entrada da Praça da Matriz;
2º - O Sobrado do Dr. Ozimo de Carvalho, onde ficava a Pharmacia Brasil;
3º - O Sobrado grande e cor de rosa de cinco portas, onde por muito tempo viveu D. "Maria de
Fabrício" exímia costureira de lombos de boi;
4º - O Sobrado Amarelo de oito portas, onde funcionou a famosa Fábrica Santa Maria, de propriedade
durante muito tempo do Sr. José Mendes Pinheiro
5º - O Sobrado de Victor Hugo, já perto da Rua da Ponta, onde muito tempo depois foi a residência da
família do Sr. Oiama Cardoso e depois de Feliciano Gonçalves
Parece-me que na foto do Sobrado Amarelo está meu pai, Zé Pinheiro conversando com Seu Hugo Soeiro, irmão de José e Manoel Soeiro, homens sérios que sé engrandeceram a estirpe de vianenses que merecem respeito. Na janela está minha mãe Laura Mohana Pinheiro, em pose para a foto.
Infelizmente hoje só existe de pé o Sobrado de Victor Hugo. Os outros, ou desabaram, ou estão em fase de desabamento. Triste fim de uma rua e de prédios que fizeram história na nossa querida Viana. Hoje maltratada e desfigurada das suas belezas e tradições.
Excelente texto e belíssima foto, meus parabéns!!! Abraços
ResponderExcluirPinheiro, sou Matheus, neto de Manoel Soeiro. Gostaria de parabenizar pelo excelente post. Um texto que trás lembranças e que conta a história de Viana para a nova geração que não teve oportunidade de vivenciar esse tempo.
ResponderExcluirExcelente trabalho.
Abraço!
Saudades do meu amigo Pinheiro Filho. Nalva
ResponderExcluirFiquei encantada com a história. Viajei no tempo, como se estivesse vivido, exatamente, aquela época. Quando passava pelo sobrado, ficava imaginando, quem teria morado por ali, e como era a vida naquela época. Parabens. Agora, quando eu passar por lá novamente, vou vivencair, todo relato contado. Grande abraço.
ResponderExcluirFiquei encantada com a história. Viajei no tempo, como se estivesse vivido, exatamente, aquela época. Quando passava pelo sobrado, ficava imaginando, quem teria morado por ali, e como era a vida naquela época. Parabens. Agora, quando eu passar por lá novamente, vou vivencair, todo relato contado. Grande abraço.
ResponderExcluirme lembro bem desse sobrado brinquei muito ai com vocês lembro do quarto do sarampo da merenda das freiras que dona conceiçâo ou dona antoninha faziam
ResponderExcluir